A feira de rua, reconhecido espaço de compra e venda de produtos
variados, possui uma dimensão simbólica muitas vezes ignorada: a de
convergência social. O termo "feira", deriva do latim feria, que pode significar "dia
festivo", "dia santo", ou mesmo "dia livre". Na Antiguidade
e Idade Média as feiras se mantinham como lugar de troca de produtos, estando
presentes mercadores locais e estrangeiros, em livre circulação. Pra sermos
mais exatos, as feiras eram verdadeiros espaços de comunicação e troca, em
muitas, ocidentais e orientais podiam obter aquilo que sua terra não poderia
oferecer, um festejo de diversidade! Durante a Idade Média guerras se
interrompiam pela manutenção da instituição feira.
Hoje, nossa ideia
de feira está ainda mais ampliada, podemos falar em feiras nacionais e
internacionais, feiras de negócios, feiras de jogos, feiras de estágio, feiras
de barcos, carros... Uma infinidade de possibilidades, mas vamos nos ater a
nossa herança mais genuína da antiga feira, a feira de rua, onde há livre
circulação, saída e entrada de representantes de quaisquer segmentos sociais,
prontos a negociar, barganhar, e por que não encontrar um vizinho, conversar
sobre a qualidade e os preços das verduras com quem está ao lado, tocar as
frutas, sentir o cheiro de peixe e comer pastel. Tudo isso pode parecer muito
banal, mas o que podemos observar é um esvaziamento dos espaços coletivos,
propiciadores de encontro comunitário, que fazem parte da nossa formação
cidadã. Ainda encontramos espaços democráticos, mas em número cada vez mais
reduzido e a decrescente quantidade de feiras na cidade é um bom marcador desse
fenômeno. A feira funciona horizontalmente, quero dizer, a diferença é
entendida de forma qualitativa e não como justificativa para a segregação
quantitativa entre maiores e menores, ricos e pobres, na feira todos tem o que
dar e receber, mesmo que em produto imaterial, como os "saltimbancos"
e artistas de rua, engraxates e carregadores de sacola.
Talvez não possamos
hoje prever com exatidão as consequências de vivermos num território partido, onde
os condomínios se tornam cada vez mais autossuficientes, aproximando-se dos
feudos, onde a população não conhece sua própria cidade, seja por medo do
lugar-rua criminalizado, seja por falta de acesso à lugares que presumem
valores para entrada, tanto financeiro, quanto o acesso a própria divulgação do
mesmo. O sentido de coletividade parece muitas vezes estar perdido nessa cidade
de egos sedentos por agregar a si valoração. Vale aqui a reflexão: Que espaços
precisam ser circulados para termos a cidade/cidadania que desejamos?
Espaços-espelho? Onde só encontramos o que há de belo, à nossa imagem e
semelhança? Ou espaços afirmativos da diferença? Do encontro com a alteridade?
São estes últimos que abrem caminho para a convivência não apenas tolerante, mas
possivelmente harmônica se marcada pelo diálogo, pela troca.
Dessa forma, a
feira de rua pode ser reconhecida até hoje como espaço privilegiado de
circulação de discursos, promotora de novos encontros e ideias. Um verdadeiro
espaço plural para novas singularizações. A não ocupação dos
espaços como a feira pode significar a massificação, a pasteurização das formas
de vida, que se mantém no status quo por não experimentar o sabor da diferença,
por não se deixar arejar pelo encontro, por não se permitir caminhar pelo
desconhecido.
E diante de um mundo cada vez mais digital, onde as pessoas se protegem por de trás da tela do comutador e acreditam ser felizes por cultivar amizades virtuais, a feira de rua torna-se nossa esperança de um contato próximo e pessoal...
ResponderExcluirParabéns pelo belo texto Juliana Rangel... Parabéns pelo blog!!!
Beijos
Obrigada! Espero que essa virtualidade dê as mãos ao real, gerar reflexão é o objetivo.
ExcluirBeijo grande querido!
O que diferencia as pessoas de gente é essa capacidade de ir além da aparência das coisas indo ao encontro de sua essência.
ResponderExcluirSó as pessoas sensíveis enxergam além do evidente, do obvio. Parabéns por sua sensibilidade, parabéns por alimentar o seu jeito gente de ser. Parabéns por seu texto.
Bjs
Mto obrigada!! É Mto bom dividir com as pessoas o q me alimenta :) Beijo grande
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